«O Pai Natal fez um nome e depois reformou-se da produção»
24 dezembro, 2009
Duende Carvalho é empregado da fábrica de brinquedos Pai Natal, na Amadora. Na véspera de Natal, o Jornal do Fundinho foi escutar, em rigoroso exclusivo, as ambições e anseios de um dos heróis esquecidos da quadra natalícia
Duende Carvalho, muito obrigado por nos conceder esta entrevista.
Não tem que agradecer, eu é que agradeço esta oportunidade para esclarecer certos e determinados equívocos.
Antes de mais, explique-nos uma coisa: tem um nome um bocadinho estranho para um duende...
Sabe, é que o meu pai é português. Eu sou meio-irmão do Toy! Nunca reparou que ele é extremamente parecido com um duende?
Sim, de facto...
Pois é, o meu pai conheceu a minha mãe e nasci eu. Depois conheceu uma égua e nasceu o Toy.
Conte-nos, por favor, como é o seu dia-a-dia.
Eu começo a trabalhar muito cedo. Logo às 5 da manhã já estou na fábrica pronto a cumprir as ordens do Coelho da Páscoa.
Do Coelho da Páscoa? Mas a fábrica não é do Pai Natal?
Não! Já há muitos anos que ele se ocupa apenas da distribuição... Sabe como é, ele fez um nome e depois reformou-se da produção. Isto agora são tudo franchises, geridos nomeadamente pelo Coelho da Páscoa, o São Valentim, o Camões e o Nel Monteiro.
E porquê eles?
Está bom de ver: são gajos que, tirando a Páscoa, o Dia dos Namorados e o Dia de Portugal, não têm nada para fazer no resto do ano.
O Nel Monteiro também?
Bem, esse também não pode passar a vida na "Praça da Alegria" e no programa do Goucha, não é? Sobram-lhe muitos dias livres. Isto apesar de ele ter um cabelo muito parecido com o do São Valentim, o que às vezes lhe permite fazer uns biscates...
E isso do franchise é assim desde quando?
Ui, há muito tempo! É que não chegaram a ser precisos 100 anos para o Pai Natal montar um negócio muito bem sustentado, depois de ter comprado a marca ao Menino Jesus...
O Pai Natal comprou o Natal ao Menino Jesus?
O Natal todo não! Só a parte dos presentes. A parte do bacalhau foi comprada pelo Governo da Noruega, a parte das repetições do "Música no Coração" foi comprada pela SIC e a parte do tio bêbedo e da família toda sentada à mesma mesa a insultar-se por causa das partilhas da avó que está quase a morrer da tuberculose foi comprada pelo Estado português para distribuir por todos os cidadãos nacionais.
Espanta-me que o Menino Jesus tenha vendido o Natal... Sobretudo essa parte dos presentes...
Sabe, ele estava a levar à falência o negócio, que, aliás, tinha herdado do pai...
Pois, devia ser por causa daquela coisa de passar a vida ora nas palhinhas deitado ora nas palhinhas estendido, não é?
Isso é um mito. Uma das vantagens de se ser filho de Deus é que se sabe desde sempre o que pode acontecer numa instituição católica, para mais se se estiver muito tempo deitado... O problema foram os sócios...
Os sócios?
Sim. O São Pedro passava a vida a tentar ficar com o negócio e o Judas tentou vender aquilo à concorrência. Já para não falar do pai adoptivo, que estava sempre a dizer que ele devia fazer só brinquedos de madeira.
E o Coelho da Páscoa, é um bom patrão?
Não tenho razões de queixa. A não ser na altura da Páscoa, em que ele anda sempre em cima, por causa da produção dos ovos.
E o Pai Natal, exerce algum tipo de controle?
Mais ou menos. Está presente sobretudo a partir do início de Dezembro, mas o que mais incomoda é o stress dele por causa da entrega dos presentes em Portugal. É que é um pesadelo descarregar os presentes todos que os portugueses compram!
Mas são assim tantos? Mesmo com a crise económica?
Sim. Graças a um milagre de Natal: as compras a crédito. Aliás, desconfio que é assim que o Governo de Portugal vai arranjar dinheiro para pagar o novo aeroporto e o TGV: graças a um milagre de Natal... Bem, mas vamos ter de ficar por aqui... É que ainda tenho de voltar para a fábrica.
Mas vai trabalhar hoje? É véspera de Natal!
Sim, mas nós nunca paramos de produzir. Esta noite, por exemplo, ainda tenho para fazer 536 Noddys, 386 Barbies, 271 Action Mans e 101 Artures.
Artur? Não conheço esse brinquedo...
Sim, é um brinquedo especial, que é, basicamente, um miúdo de cinco anos. É para uma comunidade de 100 padres católicos irlandeses.
Mas disse que ia fazer 101...
Ah, sim! É que eles nestas circunstâncias nunca brincam com nada que não tenha sido testado pelo próprio Papa. Acho que é um dos dogmas da Igreja, ou o camandro...
Duende Carvalho, muito obrigado por nos conceder esta entrevista.
Não tem que agradecer, eu é que agradeço esta oportunidade para esclarecer certos e determinados equívocos.
Antes de mais, explique-nos uma coisa: tem um nome um bocadinho estranho para um duende...
Sabe, é que o meu pai é português. Eu sou meio-irmão do Toy! Nunca reparou que ele é extremamente parecido com um duende?
Sim, de facto...
Pois é, o meu pai conheceu a minha mãe e nasci eu. Depois conheceu uma égua e nasceu o Toy.
Conte-nos, por favor, como é o seu dia-a-dia.
Eu começo a trabalhar muito cedo. Logo às 5 da manhã já estou na fábrica pronto a cumprir as ordens do Coelho da Páscoa.
Do Coelho da Páscoa? Mas a fábrica não é do Pai Natal?
Não! Já há muitos anos que ele se ocupa apenas da distribuição... Sabe como é, ele fez um nome e depois reformou-se da produção. Isto agora são tudo franchises, geridos nomeadamente pelo Coelho da Páscoa, o São Valentim, o Camões e o Nel Monteiro.
E porquê eles?
Está bom de ver: são gajos que, tirando a Páscoa, o Dia dos Namorados e o Dia de Portugal, não têm nada para fazer no resto do ano.
O Nel Monteiro também?
Bem, esse também não pode passar a vida na "Praça da Alegria" e no programa do Goucha, não é? Sobram-lhe muitos dias livres. Isto apesar de ele ter um cabelo muito parecido com o do São Valentim, o que às vezes lhe permite fazer uns biscates...
E isso do franchise é assim desde quando?
Ui, há muito tempo! É que não chegaram a ser precisos 100 anos para o Pai Natal montar um negócio muito bem sustentado, depois de ter comprado a marca ao Menino Jesus...
O Pai Natal comprou o Natal ao Menino Jesus?
O Natal todo não! Só a parte dos presentes. A parte do bacalhau foi comprada pelo Governo da Noruega, a parte das repetições do "Música no Coração" foi comprada pela SIC e a parte do tio bêbedo e da família toda sentada à mesma mesa a insultar-se por causa das partilhas da avó que está quase a morrer da tuberculose foi comprada pelo Estado português para distribuir por todos os cidadãos nacionais.
Espanta-me que o Menino Jesus tenha vendido o Natal... Sobretudo essa parte dos presentes...
Sabe, ele estava a levar à falência o negócio, que, aliás, tinha herdado do pai...
Pois, devia ser por causa daquela coisa de passar a vida ora nas palhinhas deitado ora nas palhinhas estendido, não é?
Isso é um mito. Uma das vantagens de se ser filho de Deus é que se sabe desde sempre o que pode acontecer numa instituição católica, para mais se se estiver muito tempo deitado... O problema foram os sócios...
Os sócios?
Sim. O São Pedro passava a vida a tentar ficar com o negócio e o Judas tentou vender aquilo à concorrência. Já para não falar do pai adoptivo, que estava sempre a dizer que ele devia fazer só brinquedos de madeira.
E o Coelho da Páscoa, é um bom patrão?
Não tenho razões de queixa. A não ser na altura da Páscoa, em que ele anda sempre em cima, por causa da produção dos ovos.
E o Pai Natal, exerce algum tipo de controle?
Mais ou menos. Está presente sobretudo a partir do início de Dezembro, mas o que mais incomoda é o stress dele por causa da entrega dos presentes em Portugal. É que é um pesadelo descarregar os presentes todos que os portugueses compram!
Mas são assim tantos? Mesmo com a crise económica?
Sim. Graças a um milagre de Natal: as compras a crédito. Aliás, desconfio que é assim que o Governo de Portugal vai arranjar dinheiro para pagar o novo aeroporto e o TGV: graças a um milagre de Natal... Bem, mas vamos ter de ficar por aqui... É que ainda tenho de voltar para a fábrica.
Mas vai trabalhar hoje? É véspera de Natal!
Sim, mas nós nunca paramos de produzir. Esta noite, por exemplo, ainda tenho para fazer 536 Noddys, 386 Barbies, 271 Action Mans e 101 Artures.
Artur? Não conheço esse brinquedo...
Sim, é um brinquedo especial, que é, basicamente, um miúdo de cinco anos. É para uma comunidade de 100 padres católicos irlandeses.
Mas disse que ia fazer 101...
Ah, sim! É que eles nestas circunstâncias nunca brincam com nada que não tenha sido testado pelo próprio Papa. Acho que é um dos dogmas da Igreja, ou o camandro...
Etiquetas: Sociedade